“Isto é mito”, dizem os demitizadores.
Mas para identificar o que é ou não mítico não é tão simples assim, pois a
força do mito é sua invisibilidade, ou melhor, sua imperceptibilidade. Ele
escapa por entre os dedos de todas as pessoas, e mesmo que alguém consiga
identificá-lo, isto não lhe diminui a força que possui. Ninguém desvenda um
mito por completo, a curto prazo e de forma satisfatória, pois ele se
transforma em outra coisa antes de se esgotar o processo demitizador.
Adicionar legenda |
Veja o exemplo
dos filósofos iluministas da Idade Moderna que perseguiram o ideal de
esclarecer a mente humana e vencer a era das trevas da Idade Media.
Conseguiram? Não! Mais de duzentos anos se passaram e o poder da superstição
continua tão vigoroso quanto no tempo dos castelos. O ocultismo tem fascinado
cada vez mais as pessoas e as religiões milagreiras não param de se
multiplicar.
Para se
identificar um mito é preciso “perder a
boa fé”, e isto significa a morte da esperança. Alguém te conta que o homem
foi até a Lua e voltou. Por boa fé você acredita e não contesta. Mas se passar
a desconfiar da história e resolver desmistificar esta lenda, terá que lutar
contra as forças políticas que investiram bilhares de dólares em propagandas e
livros para reforçarem o mito da conquista espacial. De igual forma se contam
algum milagre de cura, a boa fé o ajuda a confiar no mito. Mas se começar a
desconfiar do milagre, terá de lutar contra as forças religiosas que lucram
milhares de reais com votos e promessas dos fiéis.
Mas existem
mitos muito mais difíceis de serem identificados. São aqueles que nós mesmos
criamos, acreditamos e apresentamos aos homens. Não os chamamos de mitos, e
sim, de convicções e verdades absolutas. Nós defendemos aquilo que acreditamos
e dificilmente admitimos que não passam de “lendas urbanas”, como produtos da
mente, nada mais.
Francis Bacon chamou estes pensamentos míticos de “ídolos”, portanto, dignos de adoração e de culto. Como poderíamos denunciar a nós mesmos? Como poderíamos chegar a público e admitir que somos idólatras, adoradores de estátuas mudas? O mito não se presta a ser desmascarado com facilidade. Ele oferece muitas faces, e mesmo que saibamos qual é a falsa, ainda restam muitas outras a serem desmascaradas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário