Podemos afirmar
sem nenhuma sombra de dúvidas que os mitos surgem nas ocasiões de tragédias.
Uma análise sincera dos mitos nos mostra que todos eles possuem o pano de fundo
das tragédias, isto é, fatos terríveis, irreversíveis e destruidores produzem
um senso comum de angústia nos contadores de lendas e dos poetas e dá origem
aos mitos, que é a história recontada com o brilho das metáforas.
Pense na
tragédia de um naufrágio onde morrem centenas de bons homens. Como explicar
este fato de uma forma diferente daquelas que ouvimos em um noticiário da TV?
Os jornalistas procuram ser imparciais e querem manter a distância entre o fato (o que aconteceu) e a interpretação (porque aconteceu). Mas
os contadores de mitos não se importam com o fato em si, e sim, com o impacto
existencial que este fato pode causar nos auditórios. O barco pode afundar na
orla ou nos abismos, mas os poetas colorem a cena para que o trágico seja
percebido como algo “sem solução”.
As tragédias
não admitem remédio. Elas envolvem a vida humana e transtornam o curso das
coisas sem oferecer satisfação a ninguém. Quem sofre uma tragédia procura
suavizar a dor e os mitos (como entorpecentes) agem de maneira anestésica,
amenizando perdas, frustrações e derrotas. Os mitos que oferecem alegria e
prazer também estão envolvidos pela tragédia. O mito do dinheiro, do amor, do
saber, da justiça e do paraíso são exemplos do senso trágico que trazemos na
alma.
Quando os
gregos contavam suas histórias havia uma representação teatral onde as
personagens usavam apenas duas máscaras, uma para a tragédia e outra para o
cômico. Qualquer que fosse a peça representada o papel principal cabia a
personagem trágica, que geralmente perdia os bens, os amigos, a família e a
própria vida, adiando suas esperanças para uma vida no Hades onde o deus dos
mortos decidiria sua sorte eterna.
Percebemos que
há um vazio absurdo presente no mundo. Por mais que a humanidade tenha evoluído
em tecnologia, cultura e domínio da natureza, o mondo continua sofrendo com os
infortúnios dos terremotos, tsunamis, epidemias e guerras. Como encontrar
conforto real diante da tragédia? As religiões oferecem esperança. A mitologia
oferece a coragem. E a filosofia?
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