Com a pergunta
“ser ou não ser, eis a questão”, Shakespeare
ensinou muitas gerações a pensarem filosoficamente. Esta pergunta penetra no âmago
de nossas preocupações reais, isto é, estamos sempre nos perguntando se esta
coisa é o que é ou apenas tem uma aparência que engana.
Para pensarmos
filosoficamente precisamos imaginar uma linha divisória entre o objeto e o
sujeito, ou seja, entre a coisa que está sendo pensada e o ser que está
pensando na coisa. Vamos supor que estamos pensando a ideia da “laranja”. Em momento algum podemos nos
confundir com a fruta ou com a cor laranja, mesmo que estejamos
nadando em uma piscina de laranjas. Há uma distância real entre o sujeito que pensa e o objeto que está sendo pensado.
Você sabe que
as aparências enganam? Foi com esta base que Platão criou um sistema filosófico
para ensinar a humanidade a pensar filosoficamente para além das aparências, ou
melhor, além dos cinco sentidos. Sua missão filosófica jamais foi superada,
pois ficou evidente a todos os pensadores posteriores que as aparências representam
algo que não são. Shakespeare estava certo! A maior questão da filosofia é
decifrar a distância entre o “ser e
o não ser”, entre a aparência de um
objeto e sua real existência.
A fruta que
hoje é uma laranja, amanhã será uma árvore inteira, com raízes, caule, folhas e
frutos. Esta mesma fruta não passava de uma pequena semente, insignificante e
desprezível. E agora? O que é esta coisa em nossas mãos? Uma fruta? Uma árvore?
Uma semente? Eis a questão! Se ela é uma laranja, como pode se tornar uma árvore?
Se ela se torna uma árvore, como dizer que seja uma fruta?
Para pensar
filosoficamente é necessário distanciar sujeito e objeto, mas quando nos
distanciamos dos objetos acabamos nos alienando, ou seja, nos tornamos
estranhos aos objetos. Neste caso podemos chamar a laranja de limão ou de
cereja que não fará diferença alguma, afinal, a fruta é um objeto estranho,
desconhecido e que não se impõe como laranja a ninguém. Como resolver este dilema?
Somente por uma aproximação entre os sujeitos que investigam as frutas e
concordam em chamar esta fruta de laranja, não de limão ou de cereja. É tornar
o objeto uma parte do sujeito.