Introdução à Filosofia da Política

A ideia principal da Filosofia Política é discutir sobre a forma de se conduzir uma sociedade humana de maneira ideal, ao ponto de se produzir o progresso de todos os cidadãos que compõe esta sociedade. Mas não podemos romancear esta discussão, pensando que os problemas de convívio entre as pessoas não venha a impedir este progresso pretendido, ou mesmo a ideia de uma Filosofia do Bom Governo, pois é assim que deveríamos chamar a Política.


Polis era a cidade dos gregos, um lugar onde "poli" significa "mais que um", e sempre que dividimos espaços, coisas, decisões e destinos com mais de uma pessoa, além de nós mesmo, é preciso nos politizar, ou seja, precisamos chegar a um acordo social. Neste sentido, podemos dizer junto com Aristóteles que o homem é um "animal político", alguém que tem a natureza de um ser que organiza seu mundo por meio de contratos, acordos e concessões.

Estes contratos sociais, como ensinou Rosseau, se constituem em "meio termo" entre as elites que governam e o povo que se deixa governar. Os governantes devem representar a vontade de seu povo e protegê-los de ameaças que venham de outras sociedades. Mas o povo deve fiscalizar o governo, pois se os desmandos dos governantes chegar a oprimir o interesse da sociedade como um todo, será dever de cada cidadão levantar-se para "derrubar" o mau governo e estabelecer novos representantes. 

Os Filósofos Políticos admitem que existe uma cumplicidade real entre o governo que oprime e o povo que não protesta. O fenômeno político não é uma experiência monolítica, como um único bloco de pedra que não pode ser movido a outro lugar. Na verdade a Ciência do Bom Governo já experimentou uma longa mudança de rumos, começando com a sociedade patriarcal que evolui para tribal. Surgiram os clãs e as Cidades-Estados. Vieram os reinos e os impérios. Temos monarquias e repúblicas, parlamentarismos e presidencialismos. Ditaduras e Democracias. Enfim, é uma diversidade de formas de governos que se conjugam em regimes diferentes, oferecendo aos homens a incrível marcha politica. 

20. Fronteiras da Filosofia na Atualidade

Quando os pré-socráticos iniciaram os primeiros questionamentos aos mitos gregos a Filosofia encontrou a Fronteira da Consciência Mítica. Isto significa que os filósofos enfrentaram um mundo em que os homens acreditavam numa teodiceia, onde os deuses interferiam na vida humana e impunham o que eles julgavam justo para eles, os imortais. Esta Fronteira da Consciência Mítica jamais deixou de existir, pois muita gente ainda acredita nos mitos. Mas podemos dizer que ela diminuiu bastante sua extensão pois a filosofia ensinou os homens a desconfiarem dos mitos, lendas e contos de fadas.
Na atualidade o desafio filosófico se concentra na Fronteira da Inteligência Artificial, onde os cientistas procuram a mais de cinqüenta anos desenvolver a maquina perfeita, capaz de articular os próprios pensamentos, assim como fazem os humanos. Por enquanto o projeto de Inteligência Artificial esbarra nas limitações dos programadores de computador, pois são eles quem dizem aos robôs o que eles devem pensar.
Qual é a maior dificuldade dos programadores? É justamente desenvolver um software que siga o modelo dos neurônios humanos, capazes de “criar pensamentos e idéias originais”. Caso consigam esta façanha, o futuro da humanidade será o de convívio e interação natural com as máquinas, mas não um convívio comum, pois os “andróides” seriam mais que máquinas e mais que humanos.
O perigo no desenvolvimento destes super-humanos é a ameaça de uma Guerra contra a Humanidade e o conseqüente extermínio da raça humana. Os filmes futuristas exploram esta possibilidade e dão pouca chance para a resistência humana, sempre identificada por uns pouco rebeldes que não se ajustam ao controle das super-máquinas.
A tecnologia dos andróides vai muito além daquilo que encontramos em celulares e smart-fones, e os teóricos em Tecnologia da Informação admitem que há um perigo potencial em automatizarmos o mundo inteiro e ficarmos na dependência das máquinas e do mundo virtual. Todos concordam que é preciso criar um “botão de desligar”, antes de criar o “botão de ligar”, ou seja, a humanidade precisa se precaver contra o domínio dos robôs. 
Para encontrar as falhas nestes super programas existem os Hackers, mas este é assunto para um outro momento.

19. Teste vocacional de Filosofia

Como saber se você possui ou não Vocação Filosófica? Difícil é esta pergunta, e mais difícil a resposta. De acordo com Immanuel Kant, “não se ensina filosofia, mas se ensina a filosofar”. Isto significa que somente os interessados em filosofia estão lendo os artigos deste blog, pois quem não se julga vocacionado a filosofar jamais “perde tempo” com a Filosofia.
Sócrates, considerado pai da filosofia, dizia que sua vocação filosófica vinha por inspiração divina, pois um espírito o inquietava sobre a verdade das coisas. Ele passou os últimos anos de sua vida investigando se as pessoas tinham domínio daquilo que afirmavam serem especialistas. Jamais encontrou ninguém que lhe provasse ser o que aparentava.
Neste caso, se você é uma pessoa inquiridora e não se satisfaz com respostas prontas, enlatadas e definitivas, há um forte indicio de que seja vocacionado a filosofar. Você irá aprender a “fazer perguntas” até cansar seus interlocutores e os levar a reconhecer a superficialidade de suas convicções.   
Platão, sucessor de Sócrates, falava de uma disciplina filosófica, desde que a pessoa soubesse o mínimo de geometria, ou seja, que gostasse da ciência dos números. Ele não ia buscar discípulos, e não aceitava a qualquer que se julgasse vocacionado. Era preciso comprovar a vocação, passando anos e anos aos pés de Platão ouvindo muito e falando pouco.
Neste caso, se você é uma pessoa de poucas palavras, mas muitos pensamentos, há um segundo indício de sua vocação filosófica. Também deve ser uma pessoa que economiza sua sabedoria, sabendo que a maioria das pessoas gosta mais de falar que ouvir, portanto, não adianta tentar explicar com profundidade aquilo que as pessoas ouvem com superficialidade.
O último indício de sua vocação filosófica é sua disposição em ler tudo o que te vem à mão. Não importa se os textos é complexo ou simples, extenso ou curto, de grandes autores ou anônimos. Você simplesmente “lê de tudo” e não se espanta com facilidade. Mas se encontrar algum texto ilustre, que te encante a mente, você lê, compartilha e guarda no coração. 

18. A relação entre Filosofia e Ética

A ética não é uma ciência exata. Ela faz parte das ciências humanas, portanto possui um caráter mutável, dinâmico e dialogal. Ela se preocupa com a ideia do certo e do errado, mas não em nível particular, e sim, no âmbito do convívio em sociedade. Isto significa que não existe ética pessoal, pois neste caso devemos recorrer à moral.
A diferença entre Ética e Moral é de difícil definição, pois ambos os termos são utilizados como sinônimos, sendo que Ética vem dos gregos e Moral vem dos latinos. Os gregos, com a Ética, buscavam discutir regras que pudessem ser consideradas justas para todos, portanto, falar eticamente é buscar a Justiça. Os latinos, com a Moral, se preocupavam com assuntos íntimos, pessoais e menor abrangência. Eles buscavam uma justiça que servisse ao momento em que estavam vivendo.
Muitas atitudes podem ser consideradas imorais, mas não são antiéticas! Como pode ser isto? Acontece que as atitudes imorais ferem a consciência das pessoas, mas não são injustas. Os muçulmanos, por exemplo, julgam que as meninas não devem sentar perto de meninos, e caso isto aconteça as meninas sofrem a censura por parte dos homens. Mas esta regra é estritamente para a cultura deles. É uma Moral islâmica!
Sempre que estamos falando em regras de grupos e de indivíduos, estamos usando o princípio de moralidade. Sempre que estamos falando de regras para grandes sociedades (como a sociedade escolar), estamos usando o princípio da ética.
A ética se preocupa com a consciência coletiva. A moral se preocupa com a consciência individual. Sempre que procuramos estabelecer nossa moral como regra para todos iremos encontrar resistência por parte das pessoas que não pertencem à nossa sociedade limitada. Neste caso é antiético forçar os outros a viver por regras que não tenham nada a ver com suas culturas.
Somente a Ética possui habilidade para dialogar com culturas diferentes, pois ela não se impõe como regra moral e irretocável, mas como regra de convívio justo entre pessoas de diferentes categorias e culturas. Este convívio pode ser conflituoso, mas busca respeitar as fronteiras entre o eu o outro.

17. A relação entre Filosofia e Religião

A Filosofia da Religião não é uma defesa da prática religiosa, mas uma investigação crítica desta prática. É inegável que as pessoas tornam-se alienadas de certas realidades por causa de seu apego ao mundo religioso e seu discurso espiritualizante. A filosofia não incentiva o fim da religiosidade, mas denuncia o aspecto viciante e até desumanizador das religiões.
Tudo começa com a ideia de culto aos deuses ou espíritos de outra dimensão. Por que devemos adorar um ser chamado Deus ou a seres divinos? Quais são as evidências reais da existência de Deus? Por que precisamos dispensar uma vida inteira de fé a um ser invisível e que sempre é visto entre as elites ricas deste mundo?
A boa fé dos religiosos os leva a crer que Deus vai abençoá-los com saúde, prosperidade e felicidade, além da salvação eterna de suas almas. A filosofia não questiona a fé religiosa, nem a veracidade sobre a existência de Deus, mas faz as perguntas sobre a autenticidade postulados da Religião, ou seja, se os líderes e representantes das religiões são autênticos e honestos sacerdotes ou estão manipulando as multidões com promessas de um paraíso que não existe, com uma salvação que não salva ninguém.
É por esta razão que os líderes religiosos costumam odiar e perseguir os filósofos racionalistas e ateístas, pois esta classe de pensadores não poupa esforços para desmentir e desmerecer a prática religiosa. Mas a Filosofia não se ocupa somente em criticar. Ela procura tão somente desconstruir o discurso religioso e por à prova se aquilo que pregam é honesto e de boa mente ou não passa de farsa e ludibrio.
A maioria dos bons filósofos crê na existência de Deus e na possibilidade em conhecê-lo em manter contato com Ele. Mas a religiosidade destes filósofos tem uma característica mais existencialista e menos dogmática, ou seja, eles crêem em Deus como uma fonte inesgotável de sentido para a vida e os dilemas da existência. Não crêem no Deus morto das fórmulas dogmáticas. Também não crêem no Deus das elites, sentado entre os nobres e punindo os nada favorecidos. O Deus dos filósofos é um ser indecifrável, mas que pode ser encontrado no embate diário, em meio ao sofrimento e coragem das pessoas que precisam continuar vivendo, até que a morte chegue.

16. A relação entre Filosofia e Política

Francis Bacon afirmou que “saber é poder”, mas sua ideia principal é voltada para o poder científico, para o político. No entanto a ideia do “PODER” está atrelada à Filosofia Política, amplamente desenvolvida nos escritos de Platão e Aristóteles. Ambos filosofaram na sociedade de Atenas e acreditavam que o governante de um povo ser um déspota esclarecido, um rei-filósofo. Com o passar dos anos eles se distanciaram da política devido ao desencanto com seus governantes que usavam a filosofia com fins de dominação demagógica.
Na Idade Media o filósofo Nicolau Maquiavel ficou consagrado com seu pequeno tratado sobre o governo de um príncipe e sua doutrina ficou conhecida como “maquiavelismo”, ou seja, o importante é se manter no poder, custe o que custar. Ele dizia que o exercício do poder não pode ser mantido com amor, e sim, com temor. Os homens devem temer seus governantes, pois eles possuem o poder nas mãos.
Os filósofos da Idade Moderna exaltaram o poder republicano, dizendo que o povo deveria participar do governo por meio de representantes eleitos direta ou indiretamente. Como eles filosofaram no tempo das monarquias, o poder dos reis era divino e absoluto, com isto, o povo era mantido distante das esferas de governo e o grau de pobreza profundo e permanente.
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Thomas Hobbes defendia que o Estado deve ser totalitário e precisa dominar todas as esferas da vida de seu povo. Rousseau defendia a ideia de um Contrato Social, onde o povo se deixava governar por seus representantes, desde que os interesses de todos fossem bem equilibrados por leis de igualdade. E quando o governante for corrupto? Neste caso o povo deve se levantar para derrubá-lo, seja por meio de protestos, novas eleições ou mesmo revoluções. 
O Brasil experimentou várias formas e modelos de governo. Começou como uma Colônia de Portugal, se tornou Império, depois um República, uma Ditadura Militar e atualmente é um Estado Democrático de Direito. Isto significa que os brasileiros se governam por uma Constituição Federal e reconhece como governantes os políticos eleitos diretamente pela maioria de votos.

15. A relação entre a Filosofia e a Arte

Não há dúvida que a Filosofia é filha da Arte, afinal se originou no mundo pensadores poetas e admiradores da poesia. Ao estudarmos a História da Arte somos levados ao tempo das cavernas onde os primeiros homens deixaram registrados os traços de suas culturas e sabedoria. É necessário um bom senso estético para estilizar as pinturas rupestres nas paredes das cavernas, além de um alto senso crítico para desenvolver as tinturas utilizadas, as quais resistiram a milhares de anos e não desapareceram.
Entre os egípcios a arte hieroglífica alcançou o auge da percepção artística e envolveu a vida do mundo antigo por milhares de anos. Era impossível ignorar a arte egípcia, pois eles dominaram muitos territórios e povos e lhes era necessário compreender a linguagem iconográfica dos hieróglifos, pois traduziam as leis, os costumes e os contratos dos egípcios.
Também a arte babilônica explorava a iconografia, a escultura e a arquitetura. Os monumentos escavados na antiga Mesopotâmia demonstram que o gosto pela arte possuía um status de sacralidade, pois a expressão da Beleza é um dom dos deuses. No entanto, quando comparamos o modelo de beleza dos povos antigos com os modelos atuais ficamos perplexos. Como podiam eles admiram seus zigurates, suas estatuais assimétricas e suas pinturas grotescas? Era assim que concebiam a Beleza.
Para os gregos a busca pela Beleza tornou-se uma obsessão. Os mitos de Afrodite e de Apolo os apresentam como deuses com beleza perfeita de tal forma que causavam inveja nos demais deuses. Zeus, o maior de todos os deuses gregos era horripilante e para seduzir as mulheres era preciso usar disfarces. Como se vê, há um confronto entre o Belo e o Feio e é necessário que o “feio” seja camuflado com roupas e pinturas “bonitas”. 
A Filosofia de Platão estabeleceu a Beleza como a maior de todas a virtudes que existem. Ela está no topo do mundo espiritual, acima da Justiça, da Bondade e da Verdade. Ela é a soma de todas as Virtudes, portanto,deve ser buscada incansavelmente pelos homens, pois quem encontrar a Beleza também encontra a salvação, ou melhor, encontra a libertação de todas as “feiúras” que estão neste mundo. Para Platão a vida neste mundo é uma triste existência “em prisões escuras” cheias de enganos.

14. A relação entre Filosofia e Ciência

Os gregos falavam que a ciência era uma episteme, ao contrário da opinião, que era uma doxa. Neste caso a Filosofia serve como instrumento em busca da verdade científica e tem por finalidade melhorar a compreensão que os homens têm das coisas em seu mundo. O povo, de forma geral, sustenta verdades que os filósofos chamam de “senso comum”. O ideal da filosofia é levar os homens ao “senso crítico”, fazendo-os passar da opinião para a ciência.
Quando a Filosofia se relaciona com o pensamento científico acontece um choque de idéias, pois o senso crítico dos filósofos os leva a enxergar inverdades nos postulados científicos. Aliás, a Filosofia chama estas inverdades de pseudociências, falsificações científicas. Logo percebemos que a Filosofia da Ciência não aceita parcerias com os embusteiros da razão.
Esta postura prepotente da Filosofia tem lhe custado caro, pois muitos filósofos sofreram tanto a perda de seus bens materiais como a pena de morte por causa de suas idéias ousadas. Sócrates é um exemplo clássico de mártir da Filosofia. Ele foi condenado à morte por defender sua liberdade em pensar de forma crítica e não convencional. Já Platão, em sua alegoria da caverna afirma que o verdadeiro filósofo acaba sendo morto pelos homens a quem deseja libertar.
O filósofo Fracis Bacon ensinava que “saber é poder”, mas para alcançar este poder seria necessário enfrentar camadas e mais camadas de inverdades lendárias inventadas pelos senhores das tribos, dos fóruns, das cavernas e das academias. Quanta inverdade foi ensinada aos homens em nome da ciência! Isto provocou um retrocesso incalculável para a história humana.

O filósofo Renê Descartes ensinava que os homens devem aprender a pensar, antes de afirmarem que encontraram a verdade. E o primeiro passo para aprender a pensar é duvidar das verdades que foram transmitidas pelos mestres do saber. Não se trata de uma dúvida ingênua, uma desconfiança qualquer, mas de um método científico que leva o homem a descobrir a origem da existência humana dentro do próprio ato de pensar. Podemos duvidar de tudo, menos de nossa própria existência como seres pensantes. Este método de pensar deu origem ao racionalismo moderno.  

13. A relação entre a Filosofia e o Mito

A Filosofia mantém uma relação umbilical com a Mitologia. Aliás, a relação entre ambas pode ser comparada a gêmeos siameses que não podem ser separados. Onde está o mito, ali está a filosofia. Há uma tensão permanente que força a filosofia a jamais descansar de sua missão filosófica, ou seja, a tarefa de questionar a lógica dos mitos.
Sempre que o mito se agiganta, a filosofia também cresce, pois o desafiante exige atenção redobrada por parte dos filósofos. Veja o exemplo do mito americano. Ele afirma que os Estados Unidos são imbatíveis em uma guerra, pois seu arsenal nuclear é dez vezes maior que todos os países do mundo reunidos. Quem ousará desafiar este mito? Os norte-coreanos? Os russos? Os chineses? As Nações Unidas?
Os filósofos políticos investigam incansavelmente o mito da hegemonia militar dos americanos, os quais estão mantém suas tropas em constante presença no Oceano Pacífico, nas geleiras da Antártida, nas fronteiras das Américas e no espaço sideral. A propaganda de suas vitórias nas guerras é maciça nos filmes, desenhos e músicas, criando a lenda dos soldados imortais. Mas qual é a verdade que o mito oculta?
Veja o mito da beleza feminina. Qual é o padrão universal para comparar a mulher feia com a bela? Será a cor da pele, a estatura, o peso, o corte de cabelo, o uso das vestimentas? Os filósofos da arte estudam o conceito de beleza em todas as culturas humanas e admitem que “não há padrão”, e sim, modelos de belezas. Ensinam que há um prazo de validade para cada modelo e que a beleza padrão é um mito inalcançável.
Há uma relação de amor e ódio entre mito e filosofia, pois um constrói a ponte e a outra testa com dinamites. O mito se transmuta em outro mito e a filosofia se reveza com outra filosofia. Mas não pensemos que a filosofia seja a vilã ou vítima da história. Ela é a irmã gêmea e siamesa do mito. O outro lado da verdade, ou seja, enquanto o mito se apresenta de forma encantadora e metafórica, a filosofia faz o mesmo de forma discursiva e pouco atrativa. Somente os filósofos gostam da Filosofia.

A própria Filosofia é um Mito! Mas quantos filósofos você já ouviu falando que suas filosofias são mitologias? 

12. Como identificar um Mito?

“Isto é mito”, dizem os demitizadores. Mas para identificar o que é ou não mítico não é tão simples assim, pois a força do mito é sua invisibilidade, ou melhor, sua imperceptibilidade. Ele escapa por entre os dedos de todas as pessoas, e mesmo que alguém consiga identificá-lo, isto não lhe diminui a força que possui. Ninguém desvenda um mito por completo, a curto prazo e de forma satisfatória, pois ele se transforma em outra coisa antes de se esgotar o processo demitizador.

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Veja o exemplo dos filósofos iluministas da Idade Moderna que perseguiram o ideal de esclarecer a mente humana e vencer a era das trevas da Idade Media. Conseguiram? Não! Mais de duzentos anos se passaram e o poder da superstição continua tão vigoroso quanto no tempo dos castelos. O ocultismo tem fascinado cada vez mais as pessoas e as religiões milagreiras não param de se multiplicar.
Para se identificar um mito é preciso “perder a boa fé”, e isto significa a morte da esperança. Alguém te conta que o homem foi até a Lua e voltou. Por boa fé você acredita e não contesta. Mas se passar a desconfiar da história e resolver desmistificar esta lenda, terá que lutar contra as forças políticas que investiram bilhares de dólares em propagandas e livros para reforçarem o mito da conquista espacial. De igual forma se contam algum milagre de cura, a boa fé o ajuda a confiar no mito. Mas se começar a desconfiar do milagre, terá de lutar contra as forças religiosas que lucram milhares de reais com votos e promessas dos fiéis.

Mas existem mitos muito mais difíceis de serem identificados. São aqueles que nós mesmos criamos, acreditamos e apresentamos aos homens. Não os chamamos de mitos, e sim, de convicções e verdades absolutas. Nós defendemos aquilo que acreditamos e dificilmente admitimos que não passam de “lendas urbanas”, como produtos da mente, nada mais.

Francis Bacon chamou estes pensamentos míticos de “ídolos”, portanto, dignos de adoração e de culto. Como poderíamos denunciar a nós mesmos? Como poderíamos chegar a público e admitir que somos idólatras, adoradores de estátuas mudas? O mito não se presta a ser desmascarado com facilidade. Ele oferece muitas faces, e mesmo que saibamos qual é a falsa, ainda restam muitas outras a serem desmascaradas.